Vitaminas Antioxidantes e Doenças Cardiovasculares

As doenças cardiovasculares lideram as causas de morte nos países desenvolvidos. Entre elas, a doença coronária é a principal causa de incapacidade precoce, inactividade profissional e morte prematura. O role de dietas na etiologia nas doenças cardiovasculares é conhecido há bastante tempo, mas uma série de estudos recentes indicam que o baixo consumo de vitaminas antioxidantes E e C e betacaroteno contribuem para uma maior incidência de doenças cardiovasculares. O baixo nível de vitaminas antioxidantes exacerba os factores de risco para doenças cardiovasculares e aumenta a probabilidade de risco de episódios de morte.

As doenças cardiovasculares são doenças relacionadas com problemas que afectam o coração e a circulação sanguínea. No senso comum, doenças cardiovasculares quer dizer distúrbios nos vasos sanguíneos o que prejudica a irrigação sanguínea tanto para o coração (cardiovascular) como para o cérebro (circulação cerebral) (Figura 1). Daí  que as doenças coronárias (referindo-se estritamente a doenças relacionadas com o coração) são um componente das doenças cardiovasculares.

As diferenças demográficas nas incidências da morbidade e mortalidade cardiovascular sugerem que apesar dos factores de risco estabelecidos, tais como níveis altos de colesterol, tabaco, e hipertensão, os componentes de uma dieta específica, podem estar implicados na etiologia das doenças cardiovasculares.

Epidemiologia das doenças cardiovasculares

Em conformidade com a Organização Mundial de Saúde mais de 50% da mortalidade nos países desenvolvidos é provocada por doenças cardiovasculares (1). Nos próximos 25 anos, poderão vir a morrer mais de 60 milhões de pessoas vitimas de doenças coronárias. No ano 2000 este grupo de doenças pode ser responsável por um quarto das mortes no Terceiro Mundo.

Entre as doenças cardiovasculares , a doença coronária é a mais importante causa de invalidade precoce, inactividade profissional, e morte prematura (mortes que ocorrem durante o período convencional de trabalho, (por exemplo entre os 15 e os 64 anos). Nos Estados Unidos as doenças coronárias contam com 36% e o cancro com 22% das mortes em 1988. Se os enfartes do miocárdio forem incluídos então a percentagem de mortes por doenças cardiovasculares sobe para 43% (2).

A Irlanda do Norte, Escócia e Finlândia estão no topo da lista por este tipo de doença, enquanto a Itália e Espanha estão no fim da lista (3). No Reino Unido são registados 1200 casos de doença e 400 dos quais são fatais.

Apesar do seu alto nível de industrialização, as doenças coronárias têm a taxa mais baixa de mortalidade no Japão e nos Estados Unidos. É interessante observar Japoneses que emigram para países com diferentes estilos de vida, e verificar que aumenta a prevalência de mortalidade nesse grupo. O desenvolvimento e o progresso das doenças coronárias é assim influenciada não por nenhum factor hereditário mas sim pelo estilo de vida, ambiente e alimentação.

Numa típica sociedade do ocidente, tal como a Suíça, cerca de 15% dos custos de doença directa são atribuídos a doenças cardiovasculares (4). Esta percentagem corresponde a aproximadamente 3.8 biliões de francos suíços por ano.

Factores de Risco

Os maiores factores de risco estabelecidos para a aterosclerose são níveis altos de colesterol no sangue, tabaco e tensão alta. Outros factores contribuem também para aumentar o risco incluindo: idade, sexo, obesidade e um estilo de vida sedentário. No entanto, todas juntas, as causas de doença coronária representam aproximadamente 50-60% da incidência da doença.

Nos homens entre os 30 e os 59 anos, o risco de ataque cardíaco atinge a mesma percentagem que o co-existente factor de risco (5). Uma analise preliminar através do Estudo Opcional das Vitaminas Antioxidantes e dos Ácidos Gordos Polinsaturados do Projecto WHO/MONICA demonstram que os factores de risco tradicionais eram responsáveis por aproximadamente cerca de 20% da mortalidade por doenças coronárias (6). É sugerido que a morbilidade e a mortalidade também dependem a um nível considerável de outros factores, tais como a alimentação.

A importância da dieta alimentar na prevenção e tratamento adjuvante nas doenças coronárias é bastante conhecido. Entre os diferentes nutrientes, lipidos e micronutrientes antioxidantes têm um papel dominante. Tal como no caso do cancro, a incidência elevada em doenças cardivasculares nos países industrializados é somente controlado geneticamente a um nível muito baixo. Deveria assim ser prioritariamente modificado.

Patogenese das Doenças Cardiovasculares

As causas das Doenças Cardiovasculares como as doenças degenerativas são múltiplas. A lesão e subsequentemente a obstrução dos vasos sanguíneos (‘placas’) é a condição mais flagrante e referida como aterosclerose (Figura 3). A placa consiste numa aglomeração de lípidos, colesterol, e células, depositadas no interior das artérias. Estes depósitos vão crescendo ao longo da vida, até ao ponto que o sangue deixa de poder fluir e fica completamente bloqueado. Como o coração se esforça para obter um baixo nível de oxigenação, ocorre uma dor típica nas costas ou “angina de peito”

A passagem estreita para o transporte do sangue é vulnerável ao bloqueamento por um coagulo sanguíneo (trombose) que pode cortar completamente o fluxo sanguíneo. Quando o tecido biológico é cortado do seu fluxo normal por uma obstrução, a situação resultante é chamada de esquémia. Isto causa um enfarte se ocorre numa artéria que forneça o cérebro, um ataque cardíaco (trombose coronária) se a artéria fornece o coração, ou uma trombose periférica se ocorre numa outra parte do corpo.

Estudo de Intervenção Australiano

Como parte do Projecto de Prevenção Australiano de multicentro de 2 anos, os efeitos do betacaroteno nos lipidos serum foram feitos em 87 homens com idades compreendidas entre os 31 e 76 anos de idade (20) Tomas diárias de 20mg  de betacaroteno foram associadas com um aumento de 47% de lipoproteina HDL, decrescendo significativamente o risco cardiovascular (Figura 11).

O Estudo de Intervenção Australiano demonstrou que a suplementação em betacaroteno com um aumento do colesterol HDL serum pode contribuir para a diminuição do risco cardiovascular.

Implicações Nutricionais

Foi encontrado um efeito protector nas vitaminas antioxidantes no estudo mencionado anteriormente resultante da administração das doses seguintes:

Vitamina E        50 mg        1200 mg diário
Vitamina C             100 mg    1500 mg diário
Betacarotene      6 mg            20 mg diário


Uma avaliação de vários estudos Europeus epidemiológicos revelaram os seguintes níveis de plasma de vitaminas antioxidantes favoráveis de forma a reduzir o risco de Doenças Cardiovasculares (29):

> 27.5 µmol/L    Vitamina E standardizada lipídica
> 40 µmol/L        Vitamina C
> 0.4 µmol/L        ß-plus α-caroteno

Estes níveis de plasma correspondem a uma toma diária de:

100 a 200 mg     Vitamina C
40 a 60 mg        Vitamina E
10 a 15 mg         Caroteno

Os níveis de antioxidantes de plasma parecem variar na Europa por factores de cerca de 1.5 para a Vitamina E, 3 para a Vitamina C, e 2.5 para o Caroteno (29). O mais baixo nível de antioxidante no sangue nos países com o maior risco de Doenças Cardiovasculares parece estar relacionado com o baixo consumo de frutos e vegetais. Consequentemente a taxa menor de mortalidade por Doenças Coronárias é França, Espanha, Itália e Portugal comparável com outros países industrializados tais como o Reino Unido e Estados Unidos donde concluímos que a dieta mediterrânea parece compatível com a protecção às Doenças Coronárias (30).

Entre outros factores de protecção à saúde, a vitamina C- alimentos ricos tais como os citrinos que prevalecem na dieta meditteranea e também na dieta vegetariana. Muitos alimentos vulgares (Tabela 1) conhecidos como ricos em vitamina C são também boas fontes em carotenoides:

A quantidade de betacaroteno disponível no organismo como antioxidante depende de vários factores interactivos, entre eles: a capcidade individual de absorção do betacaroteno, toma de lipidos, estado de vitamina A, a taxa de conversão de betacaroteno em vitamina A. Para o caroteno não existe nenhuma recomendação de toma diária pelo US Food and Nutrition Board, mas foi recomendado pelo US National Cancer Institute uma toma de 6 mg diária que corresponde a 5 ou mais porções de vegetais e frutos por dia o que supera beneficamente a actual estimativa de 1.5-2.5 mg de betacaroteno diárias.

Para além do baixo consumo de frutos e vegetais, existe especulação se terá ou não uma grande incidência nas doenças cardiovasculares, na última década estão relacionadas com a prática moderna de alimentação processada o que altere o rácio original na dieta alimentar, entre ácidos gordos insaturados e antioxidantes naturais (35). A vitamina E não nos consegue proteger contra a peroxidação dos lipidos. Perdas consideráveis de vitamina E, por exemplo, são irrecuperáveis durante as praticas presentes de desinfecção dos óleos vegetais e a desengorduração e/ou a moagem completa dos grãos. A vitamina E na carne magra é destruída mesmo quando armazenada no frio. Utilização prolongada ou repetida do óleo para fritar também acumula lípidos peróxidos.

O que favorece também a destruição das vitaminas antioxidantes é a permanência ao calor durante horas na comida já feita, por exemplo “fast-food” nos restaurantes, cantinas, hospitais, etc…

Em suma, o estado antioxidante no sangue pode ser um factor crítico em populações de climas frios que tendem a consumir muito relativamente à pouca vitamina E, gorduras animais e poucas frutas e vegetais. O enriquecimento de alimentos adequados simplificaria a obtenção de um maior consumo. Para sujeitos de alto risco, tais como fumadores, ou pessoas já com episódios cardiovasculares, a suplementação pode ser aconselhável.

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